Sem dúvida, um dos recantos mais desconhecidos do país, para qualquer português ou espanhol é a “fronteira” de Montalvão/Cedilho. Pusemos o termo fronteira entre aspas porque não é bem uma fronteira do ponto de vista ao que estamos normalmente acostumados. A fronteira é, neste caso, uma barragem, que por cortesia da empresa espanhola Iberdrola, permite o trânsito de ligeiros designadamente aos finais de semana, a certas horas em que as viaturas podem passar pela barragem evitando, desse modo, ter de se deslocar para a fronteira de Galegos/Puerto Roque, que, como já vimos, liga Marvão com Valência de Alcântara.
Os vizinhos levam anos reclamando uma ponte neste lugar, mas nada se tem feito. Imaginamos que, se para o caso de Alcoutim/Sanlúcar de Guadiana, onde há muita mais população, não se fez nada ainda, muito menos neste caso, mesmo que muito mais singelo, onde o número de pessoas servidas é muito menor e ultrapassa por muito pouco, o milhar. Isto condena esta região a ser um verdadeiro «cul-de-sac», como foram, aliás, muitas zonas raianas até a integração ibérica na União Europeia. O lugar tem uma beleza indubitável nesta zona do Tejo Internacional. Não chega a ser tão íngreme como no caso do Douro Internacional e as suas arribas, mas quase.
Do ponto de vista etnográfico resulta muito interessante por ser uma zona de contacto de influências entre o Alto Alentejo e a Beira Baixa. É ainda, um lugar caracterizado pela sua fauna e flora, bem como os restos geológicos de outrora. É por isso que na região confluem o Parque Natural do Tejo Internacional, um dos últimos parques a ser declarado como tal, em 2000, e ainda o Geopark Naturtejo, integrando, portanto, a rede de geoparques da UNESCO, com interessantes geossítios, com destaque para as vizinhas Portas de Ródão, a escarpa de falha do Ponsul e ainda outros que podem ser descobertos no site indicado. É pena mesmo que a parte espanhola não esteja integrada, sobretudo a parte que se estende entre Cedilho e Alcântara, tendo em conta que tanto Cedilho como Ferreira de Alcântara (Herrera) são aldeias que falam a nossa língua portuguesa.
Sem dúvida, uma ponte na região seria um facto muito positivo. Do meu ponto de vista, a ponte não devia ficar apenas como uma ligação entre Montalvão e Cedilho, mas também com Monte Fidalgo. Isto iria possibilitar que Castelo Branco estivesse muito mais perto destas aldeias. Para Montalvão não haveria tanta diferença, mas mesmo assim, esta cidade ficaria a uma distância mais ou menos similar à de Portalegre. Quanto ao Cedilho, a vantagem seria enorme: 35 km. entre a aldeia e Castelo Branco contra 115 km. até Cáceres. Certamente uma pessoa que estivesse doente de urgência podia ser transportada de maneira muito mais rápida até ao Hospital de Castelo Branco do que até o de Cáceres, uma vez que os acordos entre Portugal e Espanha permitem a partilha de serviços em matéria de saúde. Infelizmente, os políticos são avessos a este tipo de coisas, e dificilmente olham para o bem-estar das pessoas, designadamente no caso de serem poucos votos e pouco significativas. Mas isso é lá outra conversa...
Como não podia ser de outra forma, nada melhor do que ilustrar isto com umas fotografias da região.
Foto1 - Boas vindas à freguesia de Montalvão
Foto2 - Vista da barragem do lado de Portugal. Questão: Por que a sinalética está em espanhol? Não deveria estar em português ou pelo menos ser bilingue?
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